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Pensando em ideias
Foto do escritorEilux

O que nos salva é sempre a empatia

3 horas e 49 minutos é, em média, o tempo gasto todos os dias, por nós brasileiros, em redes sociais. Um número 53% maior do que a média global.

Para 65% dos usuários de redes sociais no Brasil, o principal motivo de usar as plataformas é manter contato com amigos e familiares.

61,5% dos usuários também afirmam que usam as redes para buscar mais informações sobre marcas, produtos e serviços.


A tese de que o Brasil possui a maior taxa de ansiedade do mundo motivou o estudo que mostra que nós somos as pessoas mais desconfiadas da América latina.

De acordo com o Latinobarómetro, apenas 5% dos brasileiros confiam em desconhecidos, um dos menores percentuais do mundo.


O neurocientista Álvaro Machado Dias, professor livre-docente da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e colunista da Folha atribui essa resposta social a uma combinação de fatores como medo da violência (sobretudo a causada pela criminalidade), desigualdade social com componentes racistas e visão pouco lisonjeira do caráter dos outros.


Somos assombrados por golpes e alta pressão para tomar decisões de compra o tempo todo. Por isso não é de se estranhar o medo e a desconfiança que temos ao falar com estranhos.

A baixa conectividade interpessoal dos brasileiros, o desconforto no trato com estranhos e a insatisfação com os relacionamentos interpessoais certamente convergem com o alto nível de desconfiança e insegurança dos clientes, principalmente os clientes do mercado imobiliário.


Os corretores de imóveis, muitas vezes, estigmatizados como profissionais de vida fácil, pouco estudo e lucros altos, sempre enfrentaram grandes níveis de desconfiança, mas agora, nas redes sociais, têm a oportunidade de ganhar autoridade, empoderamento e valorização.

Pelos motivos errados, passamos ao próximo nível. Agora parece que precisamos ter um feed com mais de 15 mil seguidores, dirigir um carro de luxo, usar ternos, relógios, bolsas e sapatos de grife e registrar tudo nas redes para provar o nosso valor.


A estratégia no ambiente digital agrava o problema e não contribui para a formação de laços interpessoais significativos entre nós e nossos clientes.


Estamos cercados de corretores de imóveis brindando estrondosos resultados e posando para selfies em carros, roupas e acessórios de luxo, apresentando imóveis surreais e desfrutando de suas férias magníficas e nós, reles mortais, profissionais comuns voltamos para casa, depois dos nossos plantões, com um sentimento desolador de insignificância, vergonha e humilhação pelas nossas pequenas conquista e resultados do dia a dia.


Bombardeados por feeds de influenciadores digitais e marcas que vendem ilusões e constroem uma crença frágil e equivocada sobre a nossa autoconfiança, valor, empoderamento, sucesso, felicidade e pertencimento.


Vivemos num mundo em que a promessa é facilidade, praticidade, beleza, saúde, jovialidade, riqueza e liberdade. Onde tudo é conquistado fazendo o download de um e-book, assinando uma plataforma, se inscrevendo em uma aula online ou comprando o ingresso para determinado evento.


Como na história do Perseguidor de Cenouras, de Clóvis Barros Filho, somos preparados e adestrados para canalizar nossa energia no que nos falta.

O que vale é o que ainda não compramos, o evento que não participamos, a aula que ainda não assistimos, o curso online que ainda não adquirimos. As habilidades e competências, o corpo, as roupas, os bens materiais e a rotina que ainda não temos e precisamos, com urgência, perseguir.


Cresce uma cultura que nos assola por nunca sermos bons o bastante, ao mesmo tempo que nos isola.


As cenouras perseguidas na história de Clóvis Barros Filho representam as conquistas que nunca são suficientes durante a jornada da vida acadêmica e profissional.


Em um enredo que começa lá no primário, ou seja a pré-escola, alcançando o ginásio (hoje, o ensino fundamental) que é a preparação para o colegial (o ensino médio), que por sua vez é a preparação para o vestibular que nos guia até a faculdade. Chegando lá na faculdade o requisito obrigatório é a realização de um estágio em uma grande e renomada empresa que agora de fato, irá nos preparar para o mercado de trabalho. Já o mercado de trabalho é marcado por níveis de conquistas impulsionadas pela perseguição de metas e mais metas que são, de modo geral, o que o filósofo se refere como as cenouras.

Em tom cômico, o filósofo vai finalizando a história desta jornada retratando a perseguição final por uma confortável aposentadoria e encerrando o enredo no velório, onde alguém no fim, ainda cita que o melhor está por vir.


Bom, a saga dos corretores de imóveis já começa pelo estigma de que somos profissionais que não pegamos as cenouras que deveríamos ter pego.

Que não demos certo na vida acadêmica e profissional e acabamos por nos tornar corretores de imóveis, mas nem por isso em nossa saga, estamos livres de perseguir o vegetal.


Sempre haverá o que você ainda não tem. Sempre haverá o que falta e o que faz falta.


Medir a importância do que fazemos pela régua dos feitos e conquistas materiais extraordinárias e pela comparação só agrava o problema que sempre existiu: a necessidade de um forte sentido de valorização na função dos corretores de imóveis.


Estamos em um ritmo acelerado para nos transformarmos em um setor de pessoas que só se interessam por poder, sucesso, beleza, conquistas materiais e em se tornarem importantes.


As cenouras perseguidas agora são a criação de conteúdo mais eficiente, maior alcance e visibilidade nas redes sociais, aumentar as taxas de conversões, transformar seguidores em leads e leads em clientes para ter o máximo impacto nas vendas para comprar um carro luxuoso, usar ternos, relógios, bolsas e sapatos de grife e poder assistir a copa do mundo no Catar.


Os corretores de imóveis andam tão desacreditados e desolados por essas comparações, por essa visão de sucesso distorcida que parecem realmente esquecer o sentido e a importância do seu papel no mercado imobiliário.


O sentimento de que algo está sempre nos faltando tem origem na comparação exagerada com os outros e consequentemente no sentimento de que não temos valor.

Esse sentimento de desvalorização desencadeia a vergonha e até um sentimento de humilhação por não obtermos resultados equivalentes aos outros a quem estamos nos comparando.


Ora, se você se compara por não ter ou não conseguir fazer o que os outros fazem você se desmotiva. E a falta de motivação impede você de agir para mudar e melhorar as coisas. Percebe como esse ciclo é perigoso e improdutivo?


Em vez de agirmos ou nos unirmos para resolver o problema, ficamos irritados, desmotivados, julgamos e criticamos cada vez mais, fazemos mais e mais do mesmo esperando resultados diferentes. Encontramos culpados para tudo e buscamos uma perfeição insana. Não conseguimos executar planos, ideias e estratégias sem depender de um mentor guru ou fazer um download do passo a passo para o que queremos obter.


Brené Brown, professora e palestrante premiada, Ph.D em serviço social, relaciona em seu livro, A Coragem de ser Imperfeito, algumas perguntas e pede para que o leitor tenha em mente os sistemas sociais que está inserido para pensar nas respostas.


Segundo a autora o sentimento de que algo nos falta é resultado, não na mesma ordem, mas da seguinte fórmula: comparação, vergonha e desmotivação.


Ao ler esta relação de perguntas é impossível não relacionar os três componentes da fórmula com a cultura do mercado imobiliário e a maneira como cada componente influencia os corretores de imóveis em seus resultados e o quanto esta influência está sendo exponenciada pelas redes sociais.


Falando de vergonha o quanto você acha que o medo do ridículo e da depreciação impedem os corretores de serem criativos e inovadores?

Ainda sobre vergonha, quantas vezes você escuta parceiros, colegas de trabalho e você mesmo apontando culpados para coisas que não saíram como planejado?


Quando a autora faz questionamentos sobre comparação ela relaciona as perguntas a seguir:

Existe uma comparação e disputa o tempo todo, velada ou abertamente?

A criatividade tem sido sufocada?

As pessoas são limitadas em vez de serem valorizadas por suas contribuições e talentos específicos?

Há um modo ideal de ser e agir ou um tipo de habilidade usado como medida de valor para todos?


Quanto ao componente da desmotivação os questionamentos são os seguintes : As pessoas estão com medo de correr riscos ou tentar coisas novas?

É mais fácil ficar quieto do que compartilhar ideias, histórias e experiências? A impressão geral é de que ninguém realmente está prestando atenção ou escutando? Todos estão se esforçando para serem vistos e ouvidos?


Quando vejo essas perguntas e penso sobre o mercado imobiliário, sobre as reuniões nas imobiliárias, sobre as redes sociais, os panoramas econômicos e políticos, minhas respostas são sim, sim e sim!


Cresce o sentimento de nunca ser bom o bastante. De nunca ser perfeito, magro, poderoso, bem-sucedido, inteligente, correto, seguro e extraordinário o bastante.


Vergonha, comparação e desmotivação assolam os corretores de imóveis.

E para superar esses desafios a fórmula é: consciência, compromisso e muito trabalho todos os dias.


A motivação é a energia necessária para aprender ou modificar algo. A motivação é a chave para o aprendizado que é reforçado pela repetição.


Você pode chegar lá, onde você quer chegar, sem ceder à pressão imposta pelas redes sociais.


Vivemos em um mundo em que é cada vez mais difícil se importar com os outros, mas a era do 100 por cento digital não está sincronizada com a nossa cultura brasileira.


Seja para treinar equipes ou atender clientes do mercado imobiliário, o contato direto, o olho no olho, sempre será proporcional à formação de vínculo e a construção da empatia.


Entender pessoas, começando por nós mesmos e depois as pessoas importantes para o negócio é o que permite criar um ecossistema saudável e produtivo para desenvolver e atender pessoas e gerar resultados reais de forma drasticamente inovadora e impensada.


É preciso adotar estratégias para treinar nosso músculo empático, antes de qualquer coisa.

É preciso dedicar tempo para se reconectar. É preciso conquistar a liberdade de sonhar, de evitar o pessimismo e de se permitir imaginar as coisas mais criativas e ousadas para si e para o seu negócio.


Não existe nada que causará mais impacto nos resultados que você deseja.


Durante o atendimento imobiliário, o seu carro, roupas e acessórios de luxo não ajudarão no trato com um cliente extremamente desconfiado e inseguro ou arrogante e rude.


O que nos salva é sempre a empatia


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